Quando a Princesa Isabel conseguiu fazer passar a Lei Áurea, uma tempestade pesada, destruidora, se formou no horizonte. O Senador Cotegipe vaticinou nos ouvidos dela – como uma espécie de oráculo da morte – o futuro sombrio que a aguardava. Disse do alto da sua arrogância, do alto do seu medo enrustido de um mundo novo que acabava de nascer, mas que já era forte o suficiente para arrombar os portões de suas fazendas: “A senhora ganhou a batalha, mas perdeu o trono.” De fato, pouco mais de um ano depois desse vaticínio, a monarquia desabou e a Princesa Isabel foi obrigada a se exilar ― expulsa do seu país. Mas por qual pecado, qual crime? Teria conspirado para a morte do rei para assumir o trono? Teria sido uma governante tirânica? Teria feito passar alguma lei que atentasse contra a liberdade e a segurança do seu povo? Todas essas questões devem ter surgido quando a notícia da queda da monarquia e do exílio chegou aos rincões mais distantes. É possível imaginar o espanto e a total incompreensão das pessoas ao redor do mundo quando descobriam que o crime ou o pecado da princesa era ter assinado uma lei que acabava com a escravidão no Brasil. Que acabava com uma instituição nefasta, que já se prolongava por mais de trezentos anos e que muitos homens antes dela, muito mais poderosos do que ela, não tiveram a ousadia e a coragem de enfrentar. A Lei Áurea não libertou, no dia 13 de maio de 1888, apenas homens, mulheres e crianças de seus cativeiros, onde eram brutalmente explorados, mas libertou também todo um povo, toda uma nação que convivia lado a lado com a barbárie, com a iniquidade, com a desesperança, com a injustiça promovidas por aqueles que aparelharam o Estado e ignoraram os verdadeiros desejos e anseios do povo, que era viver numa nação livre e próspera.